sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Império Contra-Ataca




A querela dos Feriados, ou melhor da sua supressão, tem-se centrado da parte da generalidade dos seus protagonistas, mesmo dos "críticos", em pressupostos se não erróneos, pelo menos não reveladores da profundidade e extensão do que está em causa. A alegação da "produtividade" e da "competitividade" do País já se viu ser boçal demais para ser tomada por séria, não passando de pura fantasia conveniente. Está demonstrado à saciedade que os principais factores do deficit competitivo nacional estão a milhas de terem por causa primeira a exiguidade da jornada de trabalho ou sequer o número anual de dias "úteis" (conceito que não deixa de implicar uma questão de perspectiva do tipo do copo "meio cheio" ou "meio vazio"), a questão é toda outra. Tais argumentos são meros álibis cínicos para promover uma das maiores cruzadas revanchistas de todos os tempos - a direita dos interesses achou chegada a hora de mandar o 25 de Abril às urtigas e de reinstalar a ditadura do Capital.
Quem tem criticado a medida tem-se ficado pela "epiderme" da questão, pela mera "desvalorização salarial", mas a coisa é mais profunda e aqui ninguém é assim tão tolo que não saiba da ineficiência económica da decisão, que é de carácter meramente "disciplinar". Trata-se de impor uma outra ordem, trata-se de uma reconfiguração terrorista da relações laborais e mais do que isso, das próprias relações sociais. É uma questão de mostrar quem manda e quem tem de obedecer sob pena de "morte" económica e social, paga com o preço da própria dignidade.
Trata-se de utilizar o veneno e a miséria de um auto-propalado "pragmatismo" para esconder (mal) opções ideológicas deliberadas e nada ingénuas de atacar a simbólica histórica da identidade nacional e dos anseios de progresso. Ora atacar os símbolos é promover o seu esvaziamento, atacar a memória é sempre um acto de manipulação da vivência, e não colhe a falácia da ignorância - do género: "ninguém" sabe o que foi o 1º de Dezembro - ou "ninguém" comemora o 5 de Outubro - porque também "ninguém" sabe que Nova Iorque e o Rio de Janeiro não são as capitais dos Estados Unidos ou do Brasil e isso não deixa de as legitimar enquanto tal.
Passa pela cabeça de alguém que os Estados Unidos suprimam o feriado de 4 de Julho ou que a França suprima o dia da Tomada da Bastilha?!
Para além dos, mais modernos, feriados cívicos ou políticos, os feriados religiosos serviram para morigerar o trabalho duro num tempo em que o Estado de Direito nem era sequer uma miragem, uma vez instituído o novo contrato social social passaram a ser sua parte consuetudinária, mas a ideia peregrina de obter o agrément da Igreja Católica para suprimir feriados configura uma "esperteza saloia" da parte de um Poder infestado de arrivistas que são "não praticantes" profissionais a não ser da "religião" de quem lhes paga. Claro que a Igreja, apesar de atónita, não consegue resistir a responder a um sinal (ainda que hipócrita) de reconhecimento político de antigos privilégios, entretanto caídos em desuso, e está montada a mascarada. Estes que fingem buscar a unção eclesiástica para uma arremetida contra a memória e os direitos históricos dos povos, no afã de quererem ficar bem com "Deus" e com o "diabo", são guiados unicamente pela "fé" no "bezerro de ouro".
Oxalá (In shaa'Allah = Queira Deus) tenham batido à porta errada e o povo português, cioso da sua História, lhes dê a resposta que merecem!

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